quarta-feira, dezembro 15, 2010

Sobre a tristeza!

Encontro-te pesarosa e violentamente debruçada sobre uma irrealidade fantasmagórica que te rapina, nesciamente, a fosforescente alacridade com que encantas os meus olhos quando te vejo e imagino!
Sentenciando alarvidades pejadas de espinhos de murchas rosas e estuprando a sincera beleza que emanas, caem-te as pétalas candentes num jorro de murmúrios violentos que apagam a solicitude ascética da tua verdade.
Como morrem num ápice os anteriormente maravilhosos sorrisos cantados de alecrim e manjericão! Como explodem em anarquia e dolência as palavras dantes cuspidas em bolas de sabão e balões de ar quente! Como se retraem e morrem os dedos habituados aos saltitos nervosos da excitação!
Quero encontrar-te nas saliências rochosas dos castelos de areia! Ver-te pairar sobre a consciência amorfa da irrealidade! Quero sorrir-te nos reflexos salgados do mar de prata e sentir a saudade do futuro!

segunda-feira, setembro 13, 2010

Sobre a visão!

Imagina que a Lua se suspende, inerte e pesarosa como uma cereja, no arribar da noite, na expectativa de te ver. Que se prostra perante ti e que se afogueia, com exuberância e verdade, na segurança da placidez do teu sorriso… Que abrolha de tranquilidade com a brisa do teu perfume e se enfeitiça com o teu reflexo contemplativo e sedutor. Abraça-a!

sexta-feira, julho 30, 2010

Sobre o medo!

Porque estás tão assustada? Estende-me a tua mão. Eu agarro-a e seguro-a bem dentro da minha… Espera! Eu abraço-te e protejo-te. De certeza que os meus braços são suficientemente grandes e fortes para te enlevar e te conservar bem junto ao meu peito. Não fujas!

quarta-feira, julho 21, 2010

Sobre o tempo!

Vi-te, ao longe, doce e levemente perfumada enquanto sorrias, melancolicamente, em direcção ao infinito. Seguravas na mão uma purpúrea gerbéria que reflectia sóbria e perdidamente a solicitude ascética do teu olhar. O teu prefulgente vestido, pintado de tarde de Primavera, volitava e exalta-te ao som de um electrizante papagaio de papel.
Depois perdi-te!

quinta-feira, abril 15, 2010

O ímpio

O olhar ponderoso e fugidio com que arpoava o paulatino desembrulhar dos minutos na pedregosa torre carcomida pelo tempo, causticamente ilustrava a solidariedade ufana com que se atinha com a secreta discussão em seu redor. Enquanto o ponteiro copiosamente balançava entre uma irracional correria para a hora mais próxima e uma vagarosa contemplação de bucólica placidez, mastigava o súrculo agridoce de um cigarro respirando longas e pausadas baforadas de um vermelho enegrecido e violento.
O auditório, de uma plebeia vulgaridade, observava atónito, calado e perdido, a pérfida alegria com que o indivíduo, convictamente, os ignorava. Em uníssono respirava-se dolorosamente enquanto se aguardava um qualquer sinal em que se reconhecesse a existência da colectividade. Esperava-se, quiçá, um milagre!
Talvez não pudessem mesmo esperar qualquer outra coisa que se enquadrasse melhor nesses padrões designados por normais. É que, a opacidade melódica que se lia no fundo esverdeado dos seus olhos era de um infinito aterrador, como se escondessem áugures ou quem sabe apenas mágicos curandeiros, como se albergassem uma sagrada sapiência!
De repente, como se respondesse a uma voz muda mas poderosa, o indivíduo começou a levitar. A multidão olhou-o num misto de êxtase colectivo e cepticismo patológico enquanto ele lentamente subiu até desaparecer. Talvez nunca lá tenha estado!

quinta-feira, março 18, 2010

Sobre buracos negros e afins!

Às vezes sinto a tua falta... Sinto falta da serenidade do teu abraço e recordo-me da violência com que me puxavas para ti e docemente me enlevavas no teu peito. Sinto falta da matreira solicitude dos teus lábios e da esfusiante alucinação da sua solar gravidade. Sinto falta da brandura do teu perfume, da profundeza do teu salgado olhar e da tua saudável e linear imperfeição. Talvez seja só isso, sinto falta da tua existência!
Sei que nem sequer consegues ou queres talvez imaginar mas tu eras a minha catarse e a mais urgente e viva idealidade. Representavas na minha vida uma flagrante detonação do microcosmo, uma protuberância almiscarada na realidade, a perfeição da insanidade.
Sabes, tenho receio de não me conseguir lembrar mais de ti e de te perder, paulatinamente, na infinitude da minha imortalidade. Tenho receio que essa eternidade te apague da minha memória e que com ela se consuma toda e qualquer esperança ou alegria.
É verdade, às vezes sinto mesmo a tua falta... Falta da confirmação que não me perdi como uma andorinha na expectativa da Primavera. Falta da luz alabastrina do destino. Falta da certeza de que existo e de que estou aqui.

domingo, março 07, 2010

Sobre a luta!

Pergunto-me frequentemente se não serás apenas uma viciosa consequência da minha tenaz imaginação. Se não és o resultado de uma quimera alucinógenia ou de uma misógina embriaguez psicotrópica. Se possuis física existência fora do obscuro e confuso emaranhado do conceito de ideia.
É que sabes, às vezes sabes-me a trovoada... Consigo sentir o teu paladar violento, nervoso, explosivo! Noutras vezes sabes-me a queques quentes de chocolate. Doces, fantasiosos, admiráveis! Como uma detonação filantrópica de uma miríade de confetes e melodiosas gargalhadas...
Não existe espaço nesta realidade para essa tua perfeição! É uma perniciosa insanidade conceber sequer a possibilidade de te poderes realizar materialmente. É que o universo não comportaria tal deslustra que romperia com todos os tratados existentes!

domingo, fevereiro 14, 2010

Perversidades

É totalmente branco. De um absoluto vertiginoso e, ao mesmo tempo, imaginário. Talvez… Talvez ligeiramente salgado, de um prazer ascético e catártico.
Será que consegues vislumbrar a pérfida alegria da sua majestosa claridade? E a chocante promiscuidade com a loucura divina? E será que poderia ser mais branco? Ferir os olhos ainda que por trás da opacidade do amor? Mais perturbantemente translúcido que fundisse a doce realidade com a amência da ficção?
Não! É só, e simplesmente, branco. Sem qualquer outro figurado ou aparente significado.