quinta-feira, março 23, 2006

Ontem.

Esculpia figuras imaginárias com um cinzelo de prata, delicadamente molhado pela gelada água que caía em catadupa dos céus em fúria, quando te senti chegar.
Receosamente olhei para ti, enquanto as impetuosas gotas me escorriam pela face, aproximaste-te e beijastes-me na fronte, e as tuas mãos percorreram com sobriedade e alegria o meu rosto exausto e descolorido. Abraçaste-me e imediatamente senti o faustoso calor que emanavas que me secou o corpo, mas acima de tudo que me aqueceu a alma.
Sentado em cima da basáltica pedra, recordo com felicidade o sonho imperfeito de uma noite de Inverno.

terça-feira, março 21, 2006

Sorriso.

É um sorriso, branco, imaculado, brilhante e resplandecente. Um sorriso caramelizado, colorido e doce. Um sorriso que atravessa montanhas com a força de ciclones tropicais, um sorriso que movimenta exércitos de letícias, um sorriso de magia, de encantamento e de ternura.
Sim, é o teu sorriso… que me faz levitar de alegria, que preenche o espaço vazio no meu peito, que me faz brilhar e sonhar.

segunda-feira, março 13, 2006

Salve.

Sim, talvez sejam apenas memórias enterradas em sonhos ilusórios.
Sim, talvez não passem de desejos utópicos transformados pelas mentes embriagadas da juventude.
Sim, talvez se resuma a uma vontade antárctica de remexer por entre as folhas caídas em demanda de tesouros milenares, requestando verdades que nunca existiram.
Talvez seja tudo isto, mas pelo menos tenha a certeza de que tu existes.

segunda-feira, março 06, 2006

Aromas

Chovem gotas com sabor a morangos e a framboesas, que entre os pilares cinzentos que enfeitam o teu jardim, desenham coloridos arco-íris e rocambolescos safaris.
Pela janela, enrolada entre os cortinados azuis de cetim, espreitas na ofuscante esperança de me vislumbrares entre os cardos vermelhos e as titubeantes violetas e longamente sorris quando finalmente os nossos olhares se encontram numa detonação de pétalas de algodão.
Salta, agarra-te às translúcidas e perfumadas bolas de sabão que eu sopro para ti, e vem até mim.

quarta-feira, março 01, 2006

Deuses.

É de pedra, fria e cinzenta… e os ponteiros são de ferro, vê como são pesados, parece que nem se mexem enquanto cá de baixo olho argutamente para eles.
É estranho, os sonhos e as ilusões parecem reflectir-se nele. Vejo-te correndo de pés descalços na areia fina da praia. Olhas para um ponto bem definido no infinito, enquanto o salgado vapor da leve rebentação das ondas te borrifa a pele. Será que vens na minha direcção?
E tu, oh mestre do tempo, porque não fazes as horas morrerem mais depressa? Quero estar com ela…