terça-feira, novembro 29, 2005

Açúcar amargo.

Da manifestação de uma colorida e efémera radiação reluz a fragrância trémula de um olhar fugidio. Por entre as traiçoeiras e mordazes pétalas da rosa escarlate escondem-se os doces espinhos que guardam o teu sumptuoso néctar.
Queria beber do suave sopro emanado pelos teus rubros lábios de sangue. Queria ver brotar o natural e aromático odor da tua resplandecente tez como quem vê a metamorfose da aparentemente insignificante semente numa floresta viva e ilustrada. Queria sentir a esfusiante colisão do caos ordenado dos teus anárquicos pensamentos na minha acinzentada reminiscência catartica.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Na fraga.

Procuramos incessantemente no estulto e tortuoso mundo em que teimamos reviver, respostas a nebulosas questões que quase sempre nos levam a um escorregadio abismo de inconvenientes alegorias e de insuficientes réplicas.
Teimamos em descobrir uma perfeição inexistente e incompreensível, na secreta esperança de nos encontrarmos e de nos reinventarmos. Num turbilhão de experiências acreditamos contemplar a profícua sorte, mergulhada bem fundo num poço.
Que o negro altar se desnude à nossa passagem, que dos infernos suba um ardente fogo laranja e vermelho e te queime com exuberante intensidade e com a fugacidade dos beijos secos e cálidos.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Evasões.

A desenfreada e faustosa fuga de um lugar que sempre pensámos conhecer e entender, assume-se tantas vezes como uma boreal e aromática escapatória para um universo, que apesar de incógnito e verosimilmente oco, representa a ocasião de recriar numa explosão de cores cósmicas o impenetrável e misterioso castelo de uma existência indelevelmente apagada pela anárquica e caótica rebentação de fugazes murmúrios alpestres e negros.
Que a fátua brisa corra branda, que transporte o melífluo odor das frescas flores da manhã e que nos deixe beber o alaranjado néctar da doce fragrância de uma esperança infantil e endiabrada. Que possamos renascer das ainda quentes e vivas cinzas de uma outrora profícua e alegre existência, que sejamos noutro mundo tudo aquilo que não pudemos ser neste!

terça-feira, novembro 22, 2005

Nascimento.

A retorcida e celeste metáfora que é a vida, força-nos a bambolear em direcção a um escuro e antipoético desconhecido a cada instável e inseguro passo. Somos impelidos por uma obscura força, para uma inexistência metafísica. O remoto costume completa uma equação de complicada resolução. Daí a Metafísica do Costume!