terça-feira, dezembro 27, 2005

Interrogações.

Fecho e abro os olhos ao som do ponteiro dos segundos do relógio de pedra amolgada. As imagens desfocadas encandeiam o meu sólido pensamento na procura de respostas sucessivas e leves às perguntas irreais e ignaras.
Sei que não sei. Sei que não quero saber. Sei que apenas quero viver a ilusão almiscarada de um sonho celestial, que me faz revivescer a enfeitiçada nostalgia de uma fé mecânica e inconsciente.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Utopia...

Ah, como é bom o doce sabor da ilusão que nos completa e nos preenche como o ar quente que faz subir às nuvens o balão azul e carmesim dos nossos sonhos de meninos. Como é saudável a matreira esperança da paixão que de tão perto que está quase nos queima e nos indelevelmente marca.
Vem, chega-te a mim… para bem juntos vivermos a mesma quimera dourada. Abraça-me, e diz-me ao ouvido que queres ousar quebrar os sólidos preconceitos de um mundo ridículo e amarelo. Avança, do que estás à espera? A felicidade está mesmo à nossa frente.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Sinais.

Na secreta ironia de anunciarem a desejada reconquista, nas velhas aldeias caiadas pelas paixões tocam os negros sinos num nostálgico rebate como sentinelas feridas em batalha. Suspiram sentenças escondidas e aventuradas, e rumorejam trovas caramelizadas pela blandícia campestre, as estéreis espingardas levemente encostadas à prodigiosa barreira de espinhos vermelhos.
Que pela prazenteira necessidade de loucura se eleve a submissa determinação de triunfo, que da água da gélida nascente desça o sublime fogo, que nas aldeias velhas e brancas renasça a suprema vontade de viver.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

A catarse.

Vejo os incandescentes e alegóricos sorrisos que se obnubilam no raiar da vermelha aurora, que são como árias harmoniosamente cantadas nas invernosas noites de verão. Oiço o delicado crepitar dos sonhos como as refulgentes chamas num fogo utópico, e penso na grandiosidade divina da incessante redescoberta.
Que o misterioso inacessível que povoa a sublime realidade se revele, e que daí ecluda a genuína metamorfose purificadora!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Certezas duvidosas.

Pela janela do sótão sinto caírem as glaciais gotas de sol, que ofuscam a penumbra resplandecente da tua imagem desfocada no meu pensamento. Com a mesma velocidade corrupta que chegas, sinto-te a desaparecer. Entras, sem sequer olhar para trás, por uma porta estreita dum verde oceânico, e apagas-te doce e livremente.
Talvez não valha a pena procurar-te. Quando te encontrares, sabes que estou à tua espera!

terça-feira, dezembro 06, 2005

Omissões.

Assobias-me silêncios campestres e verdes enquanto sublimemente encostas a tua cabeça à minha. Sussurras gestos heróicos, e de ti brota a ofuscante sensualidade de cristalinas promessas. Viras-te, olhas-me com a ardente ternura de um sol por nascer, e corres livremente pelas húmidas areias quentes de um sonho entenebrecido pela amarga certeza de que podíamos ser felizes.

terça-feira, novembro 29, 2005

Açúcar amargo.

Da manifestação de uma colorida e efémera radiação reluz a fragrância trémula de um olhar fugidio. Por entre as traiçoeiras e mordazes pétalas da rosa escarlate escondem-se os doces espinhos que guardam o teu sumptuoso néctar.
Queria beber do suave sopro emanado pelos teus rubros lábios de sangue. Queria ver brotar o natural e aromático odor da tua resplandecente tez como quem vê a metamorfose da aparentemente insignificante semente numa floresta viva e ilustrada. Queria sentir a esfusiante colisão do caos ordenado dos teus anárquicos pensamentos na minha acinzentada reminiscência catartica.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Na fraga.

Procuramos incessantemente no estulto e tortuoso mundo em que teimamos reviver, respostas a nebulosas questões que quase sempre nos levam a um escorregadio abismo de inconvenientes alegorias e de insuficientes réplicas.
Teimamos em descobrir uma perfeição inexistente e incompreensível, na secreta esperança de nos encontrarmos e de nos reinventarmos. Num turbilhão de experiências acreditamos contemplar a profícua sorte, mergulhada bem fundo num poço.
Que o negro altar se desnude à nossa passagem, que dos infernos suba um ardente fogo laranja e vermelho e te queime com exuberante intensidade e com a fugacidade dos beijos secos e cálidos.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Evasões.

A desenfreada e faustosa fuga de um lugar que sempre pensámos conhecer e entender, assume-se tantas vezes como uma boreal e aromática escapatória para um universo, que apesar de incógnito e verosimilmente oco, representa a ocasião de recriar numa explosão de cores cósmicas o impenetrável e misterioso castelo de uma existência indelevelmente apagada pela anárquica e caótica rebentação de fugazes murmúrios alpestres e negros.
Que a fátua brisa corra branda, que transporte o melífluo odor das frescas flores da manhã e que nos deixe beber o alaranjado néctar da doce fragrância de uma esperança infantil e endiabrada. Que possamos renascer das ainda quentes e vivas cinzas de uma outrora profícua e alegre existência, que sejamos noutro mundo tudo aquilo que não pudemos ser neste!

terça-feira, novembro 22, 2005

Nascimento.

A retorcida e celeste metáfora que é a vida, força-nos a bambolear em direcção a um escuro e antipoético desconhecido a cada instável e inseguro passo. Somos impelidos por uma obscura força, para uma inexistência metafísica. O remoto costume completa uma equação de complicada resolução. Daí a Metafísica do Costume!