quarta-feira, outubro 21, 2009

A demanda!

Estavam despejados, em cima daquela mesa de madeira de roble, centenas, ou talvez até milhares de botões. De todas as cores e feitios. Alguns grandes, outros pequenos. Pareciam ter sido violentamente vomitados. Estariam dispostos de acordo com alguma insondável razão anárquica?
Fragmentado e luzidio, sob o olhar visceral de um lustre dourado, dormia, sem sobressaltos ou inquietações, um relógio de bolso, intemporal, de ouro fino e incrustações em madrepérola. De forma insensata sonhava com o pretensamente inócuo movimento dos seus ponteiros prateados.
Um livro, de encadernado vermelho, repousava delicadamente sobre o contador. Não era possível discernir entre as letras leves e apagadas da lombada o seu significado.
Da poltrona, carcomida, decrépita, mas estranhamente sedosa e aconchegante, sentia-se o inferno da lareira, o lento crepitar das onduladas labaredas e o maravilhoso perfume da catarse.
A porta estava fechada.