quinta-feira, março 18, 2010

Sobre buracos negros e afins!

Às vezes sinto a tua falta... Sinto falta da serenidade do teu abraço e recordo-me da violência com que me puxavas para ti e docemente me enlevavas no teu peito. Sinto falta da matreira solicitude dos teus lábios e da esfusiante alucinação da sua solar gravidade. Sinto falta da brandura do teu perfume, da profundeza do teu salgado olhar e da tua saudável e linear imperfeição. Talvez seja só isso, sinto falta da tua existência!
Sei que nem sequer consegues ou queres talvez imaginar mas tu eras a minha catarse e a mais urgente e viva idealidade. Representavas na minha vida uma flagrante detonação do microcosmo, uma protuberância almiscarada na realidade, a perfeição da insanidade.
Sabes, tenho receio de não me conseguir lembrar mais de ti e de te perder, paulatinamente, na infinitude da minha imortalidade. Tenho receio que essa eternidade te apague da minha memória e que com ela se consuma toda e qualquer esperança ou alegria.
É verdade, às vezes sinto mesmo a tua falta... Falta da confirmação que não me perdi como uma andorinha na expectativa da Primavera. Falta da luz alabastrina do destino. Falta da certeza de que existo e de que estou aqui.

10 comentários:

Filipe disse...

se sente falta da existência dela, como é possível sequer que questione a sua própria existência?

para começar - para sentir a falta de alguém, tem de existir.

e desejar alguém, ou a sua proximidade, é a prova dos nove da existência.

De facto, enquanto desejar seja quem for, está condenado à imortalidade infinita. Se perder a capacidade de querer pessoas, coisas ou fins, é porque decaiu na efemeridade da vida mortal. Não receie o momento do esquecimento. Já terá deixado de existir antes de o poder lamentar.

Filipe de Arede Nunes disse...

Filipe,

Gostei particularmente do seu comentário.

Seja como for a reflexão que faço é a seguinte: é possível falar da na nossa própria existência quando esta não se consegue materializar?

Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

CBastos disse...

A propósito da perfeição da insanidade, eu acredito que os muitos desiquilíbrios das nossas vidas individuais dão origem ao equilíbrio geral do Mundo.

CBastos disse...

agora uma piada que não resisto (não querendo inferiorizar o texto que está muito interessante e genuíno):
"Falta da certeza de que existo e de que estou aqui"

Belisque-se!

Gabrielle Solis disse...

Em tudo quanto escreve, dá que pensar, é de uma profundeza inexplicável.
Talvez pudesse arriscar em dizer que sinta falta de algo ou alguém ou um mero sentimento que muitas vezes se designa de "crise existencial".
A forma como descreve reporta-me à dualidade que se complementa e me reporta ao "Yin and Yang".
o Yin - princípio passivo, feminino,nocturno, escuro e frio; o Yang, princípio activo, masculino, diurno, luminoso e quente. Ambos existem em cada um de nós, embora um possa prevalecer por vezes sobre o outro, no entanto, ambos se complementam, só existe um porque existe o outro.
Poderia me alongar sobre isto e tornar o meu comentário longo demais.
No entanto gosto da forma como termina.
Aparentemente em toda a sua dissertação, como disse acima, parece deixar transparecer o seu yin e o seu Yang que o complementa e do qual sente falta, e que em alguns momentos o fazem sentir vivo e dão significado à sua existência...
A profundeza com que escreve faz os pensamentos do leitor voarem "como uma andorinha na expectativa da primavera".

Ric e Sofy disse...

"A paixão pode matar". Que perigoso sentimento é este, que nos faz entregar a nossa alma de forma tão intensa, criar ilusões que, se conseguirmos ser racionais, sabemos que não passarão disso mesmo, viver como se não houvesse amanhã...e não saber o que fazer se esse amanhã chega? Será um sentimento sobre-humano, que nos tolhe e torna em alguém que nunca imagináramos poder vir a ser? Ou será simplesmente a forma mais pura do ser humano se revelar? A forma mais pura de vida? A certeza de que vivemos? Valerá a pena viver sem paixão? Mesmo quando esta fica perdida num tempo, que não passa de um conceito utópico, uma vez que nunca sabemos quando termina a nossa existência? Recordar a paixão é estar apaixonado pela vida, mesmo que essa paixão se disfarce de dor...


Sofia

Unknown disse...

andorinha na expectativa da primavera. perfeito.

Uther 2 disse...

Sentimento de falta ou pânico do esquecimento... Qual a diferença?

Conceição Carvalho disse...

Sentir a falta de alguém, conduz a um precipípio...é como ter agarrado com ambas as mãos um
amor e...deixá-lo escorregar por entre os dedos...
Não sinta essa falta...ame intensamente...
Adorei o seu blog...
Tem muito bom ar...sabia?
Um sorriso, para si...

Nádia disse...

Gostei. Vou (voltar a) passar mais vezes.