segunda-feira, dezembro 15, 2008

Manifesto

Uma reacção cataclísmica de sons e ideias brota da sistemática alarvidade que a Santa estultícia encerra numa profusão clamorosa de suspiros silvestres e grenás. A vertiginosa e latente catadupa de concordantes antíteses e ignífugos anzóis expira invariavelmente na antecipação agreste da verdade oculta.
As graníticas torres mordem e mutilam sensatamente a prudência e a vergonha, não se coibindo, nem sentindo necessidade de ocultar as provadas inspirações, na demanda pelos seus propósitos.
Por entre cilindros metálicos e bulldozers de guerra os infantis ideais sucumbem à organizada debandada dos selvagens bisontes. Venham agora os ebúrneos necrófagos saciar a sua ambição nos restos cristalinos dos despojos da batalha.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Sal de menta

Eu bem tento fugir da espadana de um magenta cristalino, das líricas torrentes da promessa, das sequazes margaridas que me apertam na sua garra oculta. Tento desaparecer sob a estultícia dos heróis, descansar no regaço da desordem, imergir dentro da esperança refractária e fugitiva da fantasia e por isso procuro a complacência do teu olhar, o calor da tua mão, a serenidade do teu sorriso… Infelizmente não consigo encontrar mais do que vácuo pulverulento da metódica incerteza!

terça-feira, novembro 25, 2008

O logro

À minha frente dorme um refulgido armário de madeira exaurida pelo tempo. Dentro, sepultados por uma negra mão, vivem sonhos abandonados, patriotas esquecidos e ideias vencidas pelo progresso convencionado, ao qual se junta o pó cinzento e animal que mergulha bem fundo no seu interior.
Não sei se continua a existir esperança. O ostracismo que paulatinamente excomunga a liberdade urra bem alto na presença da diferença e da virtude. Talvez não exista mesmo e seja meramente uma expressão ridícula da mentira.
E o armário? E a porta? E eu? Será que existimos mesmo?

quinta-feira, agosto 07, 2008

Calor...

Sobe lentamente, como caem as lágrimas doces e selvagens pelo meu rosto, todo esse vapor ancestral que se entranha bem fundo nos ossos, que entorpece visceralmente os movimentos, que ensopa satisfatoriamente a alma e que tolhe velozmente toda a esperança.
Apesar da uberdade reluzente desta minha queda, apesar da hilaridade maléfica desse senhor sentado no púlpito áureo que comanda a minha existência, apesar do cheiro frio a queimado da minha fé nesse brasido marmóreo, não consigo deixar de sorrir com a miragem melíflua dos teus olhos felizes.
Ainda assim, não consigo deixar de continuar à procura da porta basáltica de pedra.

segunda-feira, julho 28, 2008

O alçapão

Parece ser cada vez mais difícil encontrar a chave que abre essa porta basáltica que faz de pedra.
Espreito pelo buraco da fechadura encostando bem o olho junto à vermelha reentrância aveludada e esquadrinho a utopia aterradora que emerge ofuscante através da escuridão.
Não consigo distinguir entre as cinzas fabuladas da verdade e o fogo glacial da ilusão. Sou incapaz de vislumbrar a maciez ridícula da existência metamórfica que confunde o desejo com a realidade. Talvez porque não exista… Talvez porque possa ser apenas fruto exclusivo de uma reflexão exagerada do meu subconsciente quando pressionado pelo lento dilúculo da existência.
Já não estou certo de ter sequer olhado pelo estrambótico buraco da fechadura.
E a porta, será mesmo que existe?

terça-feira, julho 08, 2008

Submarinos invisíveis

Sonhei contigo esta noite.
Estavas deitada ao meu lado e o verde ofuscante do teu vestido lilás permitiu-me saborear o teu perfume.
Não sabia que cantavas. Mas gostei de ouvir a tua cristalina voz ao meu ouvido ao mesmo tempo que apertavas as minhas mãos contra o teu peito.
A naturalidade melodiosa da tua presença fez descansar a minha alma. Só precisava de te ter ali para fugazmente poder deliciar-me com a organização dos teus pensamentos.
Depois fugiste. Vi-te a desaparecer enquanto me chamavas egoísta!

quarta-feira, maio 28, 2008

A esperança...

É arrogante esse caminho que percorremos com absoluta convicção, essas palavras que escolhemos para enfeitar as nossas frases imperiais, os gestos que matizam uma amência melódica que nos enfeitiça e encanta o raciocínio. Estúpida altivez que dança compassada ao ritmo verídico das nossas alarvidades metódicas.
Imagino amiudadamente a sensatez, perdida na imaginação quase real do cume do mundo, suspensa no vazio e abraçada por uma leve brisa almiscarada. Imagino que é possível agarra-la com as duas mãos e puxa-la para mim. Imagino que depois de tudo é ainda possível refazer o caminho e esquecer os erros do passado…
Haja, pelo menos, esperança!

segunda-feira, maio 12, 2008

A festa!

Como é nublado este futuro! Como cantam alto os cactos nesse deserto jardim! Como se enegrecem as fantasias vermelhas do passado!
Onde estão as efervescentes e ondeantes maravilhas que a vida tem para nos consagrar? Onde estão as juras, as quimeras, os lírios perfumados e os papagaios esvoaçantes?
Onde está a verdade, a vivacidade e o silêncio?
Estou cansado do ruído provocado pelos aterradores deuses que se não cansam de vomitar os seus anárquicos trovões. Trovem mais baixo oh anjinhos irados! Não consigo mais ouvir a zoada intempestiva que teimam em cantar…

quarta-feira, março 12, 2008

A sentença...

Não consigo evitar perder-me entre funestas recordações que se assenhoreiam do meu espírito.
A reminiscência, lancinante, aguda, estigmatizante, é fogo gélido, é vermelho vapor, é lágrima encerrada em silêncios com aroma a veros sorrisos.
A saudade, inconfessável, indizível, imaterial, imortal, é melíflua alacridade, é sedutora agonia, é reconfortante carmesim veludo enlaçado em abraços prometidos…
A pedra em que a memória acalma é fleumática, gelada e imperturbável. Que arda no azul báratro! Deixa-me ir…

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Angustia...

Será que és capaz de imaginar a lua negra, seca de plangência, cavada num vale entre serras, abscôndita entre murmúrios sôfregos e gentis?
Será que és capaz de ocultar a ânsia sufocante da tristeza, a alacridade extasiaste do sorriso espontâneo, a dúvida inesperada que corta a respiração?
Serás que és capaz de quebrar os laços com o passado, de inumar as memórias soçobrantes, de silenciar os apelos distantes de fantasmas e cadáveres?