terça-feira, novembro 19, 2019

Acidália

Vi-te demasiado perto para me poder esconder ou fugir. Tê-lo-ia feito se pudesse! Seria um cobarde. Não pensaria duas vezes se tivesse tido a oportunidade.
Foi de soslaio. Uma fracção de segundo. No entanto, bastaria uma fracção de fracção para te reconhecer. Num firmamento de estrelas imensamente brilhantes cintilaste sempre de forma distinta. É que a tua flamância ribomba de forma perene e distinta no Universo e deixa nele um traço perfeitamente único. Tu sabes que sim. Distinguir-te-ia imediatamente no meio de qualquer multidão.
Caramba, como continuas linda! Se tivesse olhado mais do que um milissegundo teria sucumbido e ter-me-iam faltado as forças para me manter de pé. Quase petrifiquei e o meu coração, imediatamente antes de começar a bater de forma desenfreada e descompassada, quase parou. Foi exactamente antes do arrepio que me correu o corpo e das borboletas que senti na barriga. Praticamente ao mesmo tempo que senti os meus olhos marearem-se de lágrimas. Caramba, como sempre foste linda!
Passámos tão perto um do outro que consegui sentir o teu magnetismo. Aquela atracção catastrófica que apenas as leis da física conseguem explicar. Só que desta vez tinhas a força hercúlea de um buraco negro. Passámos tão perto que te senti a sugar-me a alma. Mas sejamos francos, também já não havia mais nada para te banqueteares para a além da imaterialidade do que fui.
Estou agora certo de que o que mais desejaria era ter continuado a olhar-te. Gostaria de ter podido absorver todas as gotas ásperas do imenso amor que resultou da colisão de dois corpos celestes sentenciados a encontrar-se quando, no infinito, as suas órbitas se cruzam. Tivemos sorte. O tempo cósmico nem sempre coincide com o tempo humano. Podíamos, na nossa vida, ter vagueado pelo nosso sistema sem nunca nos termos aproximado o suficiente. E, se assim assim fosse, nunca teria cheirado o doce sabor do teu perfume e nunca teria estado tão próximo da tua beleza inebriante.

segunda-feira, novembro 11, 2019

Index Librorum Prohibitorum

E se por um acaso incompreensível a minha alma fosse um livro e tu, acidentalmente, me encontrasses na rede labiríntica e aparentemente infinita de uma biblioteca? Talvez, apenas por mera curiosidade, ou quem sabe, impelida por uma inquietação inexplicável, talvez... bom, talvez me pegasses! Depois, querendo, poderias folhear-me brandamente. Desejando, porventura, poderias pousar os teus preclaros e doces olhos castanhos nas páginas aparentemente proibidas e, corajosamente, ler os segredos cuidadosamente acautelados.
Ah! Quem me dera, quando ao longe passo por ti, poder cheirar o aroma aveludado que a tua pele exala. Quem me dera poder fitar-te sem receio, poder sorrir-te como se fôssemos cúmplices e poder tocar-te como se tivéssemos a vida toda pela frente. Mas, infelizmente, acho que não fazes ideia de como cintilas no meio da escuridão.