terça-feira, janeiro 28, 2020

Lunga vita

Sei que é uma inutilidade, mas penso muitas vezes no que não fomos ou no que poderíamos ter sido. Não com satisfação, mas reconheço a esterilidade do exercício. É que estou certo de que, desta forma, não só não alcanço a catarse emancipadora, como, provavelmente, me sujeito, nesciamente, a uma penitência que deveria tentar evitar.
Nesses momentos, se tivesse o arrojo de me olhar ao espelho, sei que veria apenas o fracasso. No entanto, infelizmente, não preciso dele para o sentir.

domingo, janeiro 26, 2020

Heméra

É claro que te observo sempre que tenho ocasião. Infelizmente, são poucas as vezes em que te materializas na minha presença. No entanto, nesses momentos, tudo o resto se volatiliza à minha volta e, como que por feitiço, transformas-te no todo.
No resto do tempo não posso mais do que imaginar-te. Sei, porém, que, provavelmente, toda a candura e fogosidade com que te matizo na minha mente não será mais do que a projecção do meu desejo.
É que sabes? Fascinas-me absolutamente. Porquê? Não tenho bem a certeza. Talvez devido a uma certa fragilidade violenta com que, por vezes - e eu sei que o fazes - me olhas. Talvez porque a tua beleza cintilante, praticamente perfeita, me deixa aprisionado. Talvez porque sorris com o teu olhar enquanto as estrelas te iluminam.