quinta-feira, junho 11, 2009

Patranhas...

Tu não és a verdade! Chegas a ser menos até do que a mais desprezível mentira. És abominável e arrogante. És a insónia e os suores frios. Nem sequer consegues sentir o cheiro das margaridas. Vives obsessivamente uma alucinação, uma quimera, um êxtase ininterrupto…
Tu não és a verdade! Não interessa se percorres o passeio de basalto de mão dada com aquela exultação mesquinha a que chamas Pandora! Ignoro, e confesso que quero continuar a desconhecer, o sabor das lágrimas que prometias carpir quando sentisses a nossa presença.
Tu não és a verdade! Será que conseguirias pelo menos ver o teu reflexo numa pedra de sabão? E sonhar com o saleiro púrpura do universo? Ou, talvez, saborear a brandura do chá japonês às onze da noite?
Eu sou a verdade! Deito-me e acordo com a certeza de ser incessante e inócua a procura! Vejo, em câmara lenta, o mundo correr no sentido inverso àquele para onde estou a rastejar. Consigo ler-te no fleumático fogo que crepita no horizonte. Tu não és a verdade, porque a verdade sou eu!

terça-feira, junho 09, 2009

Reminiscências...

Será que te lembras? Costumávamos ficar arguciosamente abraçados no escuro e dançar ao som de uma estulta e silenciosa melodia. Percorríamos, de mãos entrelaçadas, os caminhos escondidos e cobertos pelas outonais folhas da Europa. Devaneávamos por entre gotas de chuva docemente acariciadas pela luminosidade lunar. Sonhávamos, enlaçados e mergulhados numa melíflua alacridade, com a longevidade prometida, anunciada e esperada.
Será que te recordas? Arriscámos, orgulhosamente, uma mistura entre a ledice do fogo e a placidez da água num choque dicotómico, avassalador e feliz. Enviámos ao Universo, ao sabor da sorte utópica, uma embaixada perfumada de alegria e com sabor a esperança. Vivemos a simplicidade bucólica e fantasiada dos sorrisos pintados de carmim, a briosa insanidade dos beijos adormecidos, as marés trovadas à aurora e a arcaica explosão das bolas de sabão.
Será que te esqueceste? Daquele fado clamado com sabor a morango. Das estátuas brilhantes de um anil nocturno que te falavam em hebraico. Dos redondos assobios do leão do Kilimanjaro. Da cerejeira violeta e do limoeiro alaranjado. Dos dedos nervosos, dos olhos emudecidos e dos suspiros purificados. Dos passos errantes, do tempo que não queria morrer e do comboio chamado saudade.

terça-feira, junho 02, 2009

Imaginações

Tu, mais do que ninguém, devias ter percebido… Devias ter percebido a urgência da revolução solar. Devias ter percebido a força ritmada provocada pela queda dos grãos da areia desértica na palma da minha mão. Devias ter percebido a impaciente disputa entre o absoluto e o vazio.
Tu, como nenhuma outra pessoa, devias ter entendido… Devias ter entendido a tua, a minha, a nossa singularidade. Devias ter entendido a argúcia da serenidade. Devias ter entendido a inestética pulcritude da felicidade.
Tu, mais do que todos, devias ter compreendido… Devias ter compreendido a fantasia da tua presença. Devias ter compreendido a minha alegria com o teu sorriso. Devias ter compreendido o diletantismo ateu do nosso amor.