terça-feira, novembro 25, 2008

O logro

À minha frente dorme um refulgido armário de madeira exaurida pelo tempo. Dentro, sepultados por uma negra mão, vivem sonhos abandonados, patriotas esquecidos e ideias vencidas pelo progresso convencionado, ao qual se junta o pó cinzento e animal que mergulha bem fundo no seu interior.
Não sei se continua a existir esperança. O ostracismo que paulatinamente excomunga a liberdade urra bem alto na presença da diferença e da virtude. Talvez não exista mesmo e seja meramente uma expressão ridícula da mentira.
E o armário? E a porta? E eu? Será que existimos mesmo?

7 comentários:

Maria Paulo Rebelo, disse...

Bem dito seja este abençoado post! ah, que sede por mais! =D

hmmm... qual porta de madeira urgindo ser aberta! Sonhos revelados, patriotas ressurrectos, projectos reerguidos, tudo pequena distância de um movimento! Jamais infinitamente enclausurados ou perdidamente escondidos!

Quem dita a existência do algo é a sua consciencialização não pelo próprio, mas pelo que o rodeia. Digam-me que sucedo a Fichte, que defendo um idealismo subjectivo desfundamentado e desactualizado, chamem-me tudo o que houver a chamar; mas uma coisa jamais renunciarei, à constatação de que tudo o que é e o que não é reconhecido tem um valor, ainda que a posteriori tomado!

Anónimo disse...

voltaste a ti

Anónimo disse...

"Penso, logo existo"

Maria Paulo Rebelo, disse...

Odeio essa frase ("penso, logo existo") e sinceramente não percebo a razão de ser da sua popularidade pois carece de fundamento de verdade. Mas enfim… há-de chegar o tempo em que filósofos revolucionários pintarão novas telas de universais verdades e revelarão pensamentos por aí deambulando perdidos, à espera de serem desenterrados pelo mundo a que Popper chamaria "terceiro".

Até lá resta-nos acatá-los, submetermo-nos à nossa insignificância intelectual uma vez que, ainda que discordando, não somos ninguém para vestir a pele dos que acima chamei revolucionários.

Anónimo disse...

Falou e disse. Descartes não foi filósofo o suficiente? e onde é que esta frase carece de fundamento de verdade? não foi dita por acaso, mas qualquer pessoa que conheça o raciocinio, enfim, encontra algum fundamento de verdade. Há muitos filósofos que correspondem aos teus ideais, grande parte do q havia p ser descoberto já o foi, ha pontos de vista diferentes claro e este é o meu. agora esperar "filósofos revolucionários pintarão novas telas de universais verdades e revelarão pensamentos por aí deambulando perdidos" é a meu ver ridiculo, uma utopia..

Maria Paulo Rebelo, disse...

Filosofia: "amor pela sabedoria"; envolve criticas e reflexões sobre o mundo, o Homem, o ser; mãe de todas as ciências, enfim avancemos:

Diz-me o anónimo que "grande parte do q havia p ser descoberto já o foi". (Não queria dizer: grande parte do QUE havia POR ser descoberto já o foi. ?)

Já viu e eu que pensava que ainda hoje se debatia a moral problemática da eutanásia ou da eugenia! UI, pelos vistos já há uma opinião generalizadamente uniformizada e eu não sabia? Ou talvez também já se tenha chegado à conclusão da finitude do universo? ou do subconsciente? Será que Eva e Adão foram só mesmo uma grande metáfora cristã? A filosofia não se esgota da maneira como a pinta. Ela tem que forçosamente acompanhar todos os avanços tecnológicos e sociais! Seria ilógico pensar o contrário!

Este pensamento de Descartes deriva tão-só de dúvidas existenciais problematizadas pelos nossos falsos sentidos, pelos nossos sonhos indomáveis. Não adianta todavia grandes formulações genéricas. Essa citação não representa mais senão do que uma mísera gota de água no todo do oceano, no todo que Descartes e outros queimaram miolos para revelar. Odeio-a não só por isso, como pela forma como toda a obra desses senhores tende, tendencialmente, a ser reduzida pela sociedade a essas pequenas frases vagas e pobres que as pessoas proferem arrogantemente fingindo um conhecimento que inexistente.

Todavia este não será o sítio mais apropriado para debater este tipo de problemáticas, não só por respeito aos demais seguidores que não estarão mínimamente interessados a levar com estes pseudo-argumentos sobre temas que não concernem a este post, como ao próprio autor que não gostará, certamente, de ter "discussões" de tal ordem num blog que visa pacífico (ainda para mais quando sou eu quem me sujeito a levar uns bons pares de estaladas na faculdade caso ele não goste, e não o anónimo). A acrescentar o facto de eu também não ter por hábito falar com pessoas que não se apresentem identificadas. Assim dou por terminados os meus pontos de vista relativos a esta questão descartesiana!

Bem haja,
Maria Rebelo

André Couto disse...

Sempre acreditei que voltarias, nem é preciso dizer-te muito mais. Digo-te o que gostava de dizer àqueles que leio em papel, mas que infelizmente não conheço: Obrigado!

Abraço,
AC