quarta-feira, dezembro 30, 2009

Veritas?

Sinto na boca o paladar afogueado do absinto. Arde, doce e violentamente, incinera, bonançosa e fugazmente, agride, sedutora e ferinamente a brandura amarga do teu lindo sorriso com gosto a menta e morangos.
Confundo-o, quando me perco na louca imensidão da imortalidade, com o sabor da tequila, do rum, do gin ou do vodka… E como é difícil e improvável depois encontrar, entre os dias soalheiros e refulgentes da embriaguez, a sombra lúcida da realidade.
Fácil é viver no êxtase constante dos licores perfumados de esquecimento. Beber e sonhar, saltar arranha-céus e voar por entre as avenidas coloridas a preto e branco, caçar leões pelas planícies alentejanas e pintar aguarelas em noites de tempestade. Fácil é acreditar nos vapores etilizados de esperança. Pintar Picassos, Braques e Riveras, mergulhar nú nas calotes polares, saltar à corda no Krakatoa ou surfar as ondas do Tengger.
Sinto na boca o vermelho palato a logro e ilusão, a sede, virtualmente sequiosa, da saudade e a falsa alegria do inconsciente. Sinto na alma a insatisfação e plangência da realidade.

3 comentários:

Unknown disse...

Fantástico. Mas continuo a achar que a autocomiseração é muito mais fácil.

Filipe disse...

acho que a imagem de pintar aguarelas em noites de tempestade é das mais poeticamente expressivas que encontrei no último ano.

Beba tudo; talvez veja lá a verdade. In vino veritas:)

uther2 disse...

Não é isso a vida?
A mudança constante entre o louco paladar da ilusão alcoolica e a ressaca do dia seguinte com a boca a saber a papel de música?