terça-feira, junho 09, 2009

Reminiscências...

Será que te lembras? Costumávamos ficar arguciosamente abraçados no escuro e dançar ao som de uma estulta e silenciosa melodia. Percorríamos, de mãos entrelaçadas, os caminhos escondidos e cobertos pelas outonais folhas da Europa. Devaneávamos por entre gotas de chuva docemente acariciadas pela luminosidade lunar. Sonhávamos, enlaçados e mergulhados numa melíflua alacridade, com a longevidade prometida, anunciada e esperada.
Será que te recordas? Arriscámos, orgulhosamente, uma mistura entre a ledice do fogo e a placidez da água num choque dicotómico, avassalador e feliz. Enviámos ao Universo, ao sabor da sorte utópica, uma embaixada perfumada de alegria e com sabor a esperança. Vivemos a simplicidade bucólica e fantasiada dos sorrisos pintados de carmim, a briosa insanidade dos beijos adormecidos, as marés trovadas à aurora e a arcaica explosão das bolas de sabão.
Será que te esqueceste? Daquele fado clamado com sabor a morango. Das estátuas brilhantes de um anil nocturno que te falavam em hebraico. Dos redondos assobios do leão do Kilimanjaro. Da cerejeira violeta e do limoeiro alaranjado. Dos dedos nervosos, dos olhos emudecidos e dos suspiros purificados. Dos passos errantes, do tempo que não queria morrer e do comboio chamado saudade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom trabalho.
Classifico-o com um 16 - provando mais generosidade que o autor.
Venha almoçar lá ao meu blog um dia destes. Eu sirvo-lhe uns poemas que o porão a babar-se por mais.

Uma cordial vénia,

Rafael Silveira Neves

Maria Paulo Rebelo, disse...

Duas cordiais vénias!