quinta-feira, junho 11, 2009

Patranhas...

Tu não és a verdade! Chegas a ser menos até do que a mais desprezível mentira. És abominável e arrogante. És a insónia e os suores frios. Nem sequer consegues sentir o cheiro das margaridas. Vives obsessivamente uma alucinação, uma quimera, um êxtase ininterrupto…
Tu não és a verdade! Não interessa se percorres o passeio de basalto de mão dada com aquela exultação mesquinha a que chamas Pandora! Ignoro, e confesso que quero continuar a desconhecer, o sabor das lágrimas que prometias carpir quando sentisses a nossa presença.
Tu não és a verdade! Será que conseguirias pelo menos ver o teu reflexo numa pedra de sabão? E sonhar com o saleiro púrpura do universo? Ou, talvez, saborear a brandura do chá japonês às onze da noite?
Eu sou a verdade! Deito-me e acordo com a certeza de ser incessante e inócua a procura! Vejo, em câmara lenta, o mundo correr no sentido inverso àquele para onde estou a rastejar. Consigo ler-te no fleumático fogo que crepita no horizonte. Tu não és a verdade, porque a verdade sou eu!

5 comentários:

Maria Paulo Rebelo, disse...

Nem deu tempo de reflectir sobre o texto anterior lança-se logo noutro... tem as mãos quentes (ou o coração, que isto da inspiração tem sempre da sua mãozinha ;)).

Enfim. Devo confessar que tenho muitas vezes receio de comentar este blog, apesar de a expressividade dos textos me obrigar a dar-lhes o meu voto de admiração.

Também a mim me avassalam momentos críticos em que o querer de autocontrolo é infrutífero e incapaz de reter o desejo da injúria, do denegrir pormenorizado, da minuciosa crítica pitoresca. Creio todos experienciarmos momentos de incontrolável fúria e indomesticável desespero que nos apura a visão e nos mata de paciência e tolerância. E, não obstante à primeira vista ser isto que vejo neste texto, parece que nada a tal quer induzir. Um excelente moço uma vez me disse que "o amor era o conjunto de todos os sentimentos, inclusivamente o ódio" ... foi o ponto a que cheguei. De certa forma, foi o que lembrei de quando o lia sucessivamente "tu não és verdade" ou "és abominável e arrogante".

Enfim... fica mais uma vez o meu agradecimento pelos 2 minutos de deleite por jovial literatura! ;)

Uther 2 disse...

Sinto enorme necessidade de ler este texto em voz alta. Diante do espelho.
Um forte abraço,
Uther 2

Anónimo disse...

Palavras que, para além de fazerem o deleite de quem tropeça neste blog por acaso, servem para acicatar a vontade dos mesmos de repetir tal queda e, voluntariamente sucumbir ao encanto destes textos.
Permita-me,portanto, que o congratule pelo seu estilo de escrita, pela mestria com que tempera os seus textos de um trago da "pérola imperfeita" que é o barroco.

Anónimo disse...

Ó chefe... Eu gostei muito deste. Mas esgotou-se a fonte? As multidões famintas pelo barroco enigmático rebelam-se às portas deste blog, ameaçando decapitar o seu dono se não as alimentar com mais do seu génio!...

Se não for colocado em breve novo "pensamento desenvolvido", eu próprio liderarei as massas esfaimadas na tomada do poder, para nos saciarmos de literatura!

Apreensivo,

Rafael Silveira Neves

Maria Paulo Rebelo, disse...

Eu adiro!