domingo, abril 17, 2016

Sophia como Eurídice

Não sou eu que não existo, és tu! Aconteceste apenas numa criação da minha ébria imaginação. Num eclipse lunar numa tarde de primavera. Numa ilusão repleta de metáforas e acúleos venenosos.
Não fomos nós que não existimos, foste tu! Nós... nós beijámo-nos de mãos dadas nas praias desertas e silenciosas! Banhámo-nos desnudos nas margens saxosas dos rios encobertos. Silenciámo-nos encostados perante a grandeza do Amor. Dissemos a verdade durante toda a eternidade.
Não sou eu que não existo, és tu! Eu... eu percorro sozinho a extensão do enorme deserto. Sento-me na sombra dos feitos de Orfeu. Choro a dor de tu nunca teres existido!

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite,
Ao ler o que escreveu só me vinha a cabeça: e se ela sentir exatamente o mesmo? Já viu se choram os dois pelo mesmo...
Fez alguma coisa para ela existir?
Pareceu-me pessimista e derrotista...
De qualquer dos modos, isto é apenas a minha opinião..vale o que vale
Fico feliz por ter voltado a escrever
E quem sabe...pode vir a descobrir que ela afinal existe

Filipe de Arede Nunes disse...

Noutros tempos, quando escrevia com alguma regularidade, não respondia a comentários anónimos. Hoje - porque o escritor que não escreve perde todos os direitos que tinha perante o leitor - fico satisfeito apenas por haver ainda alguém que esteja do outro lado.

Apesar de tudo não deve o/a leitor/a achar que pode saber tanto como o autor. Afinal, não se perderia a essência de qualquer obra poética se tudo fosse claro? O importante - quase sempre é assim - não é eu saber o que escrevi mas antes aquilo que o/a leitor/a leu e o que sentiu. O resto, o resto é irrelevante!

Daí que não possa pronunciar-me sobre o eventual pessimismo da mensagem. Não que ela não aparente ser pessimista - é-o de facto - mas antes porque pode ser pessimista num outro prisma.

Se ela existe? Bem, certamente que existirá. Ou será que se deverá escrever de outra forma? Talvez, por exemplo, certamente que existiu! Duas alternativas possíveis para o mesmo texto. Qual a melhor? Entre o ela ter existido e o ela poder vir ainda a existir prefiro, devo confessar, a segunda opção!

Sabes, o autor não pode ser compreendido. O autor pode nem sequer ser coerente. A única coisa clara é que o autor, como todos os seres humanos, sente. Precisa para isso de existir? Talvez!

Obrigado pela tua leitura. Eu é que fico feliz por alguém ainda ler!

Red Angel disse...

E podemos nós imaginar o que não existe? Teremos essa capacidade? Eu sei que a resposta perece óbvia... mas decerto não será para mim.


Filipe de Arede Nunes disse...

Se pudemos imaginar o que não existe? Acho que é o que passamos a vida a fazer: imaginar o que não existe ou sequer alguma vez existirá. O ser humano tem essa - e outras - imensa capacidade, a de projectar não apenas o que consegue viver mas também o que parece longe da realidade física.