quinta-feira, maio 14, 2009

Virtudes?

Que silêncio avassalador é esse que encontro nas entranhas do meu ser? Que perturbação harmónica é essa que assombra a pútrida paz da minha alma? Que vulcão é esse que ameaça catastroficamente explodir e incinerar tudo à sua volta?
Raios… Estou deleitosamente a sentir o fim. Não consigo deixar de rir perante a arrogante demanda da fantasia em que não deixo de querer mergulhar. Sinto o ar ser-me sugado dos pulmões e a porta a fechar-se mesmo em frente do meu nariz. Sinto a nojenta repulsa da saudade, a estulta cobrança das memórias e o maravilhoso eco do fracasso.
Deixa-me! Liberta-me por favor… Dá-me a alforria da existência. Larga a mão do Morfeu e permite que me vá... Por favor! Já secaste todas as minhas lágrimas… Nada mais tenho para te oferecer para além das vãs recordações que não são mais do que folhas queimadas ao vento!

2 comentários:

Filipe disse...

Bravo. Aprecio cada vez mais este estilo neobarroco de panzer.

Ouso comentar este pequeno texto dizendo que se denota um processo de consumpção existencial pela ansiedade, à boa maneira de Kierkegaard - e se o autor deste blog ainda não leu a filosofia simples e profunda deste Dinamarquês, devia fazê-lo pela similitude das preocupações que tematizam nas suas produções literárias - de um sujeito lírico numa corda bamba sobre a loucura, caminhando do seu Eu presente para o seu Eu futuro no inevitável, árduo e duro processo de lapidação da própria existência.
À luz do existencialismo de Kierkegaard ou se Sartre muito mais se poderia dizer sobre este sumarento naco de literatura. Deixo apenas um nota, um ligeiro pedantismo de referência ao primeiro, que creio apropriada para interpretar psicologica e filosoficamente a ânsia («Angst») do sujeito poético...
Kierkegaard distingue 3 tipos de ânsia ou desespero, e creio que num deles se enquadrará - com o devido respeito - o autor deste pensamento, pelo que dele depreendo...
Esse desespero é o de quem quer "desesperadamente ser o seu Eu." Isto é, no processo de transformação constante do próprio Eu, o sujeito exige tanto de si mesmo e força-se de tal modo a chegar ao seu Eu ideal que cai em ânsia, em desespero, na frustração de não conseguir chegar IMEDIATAMENTE àquilo em que se deseja tornar...

[... Se não gostam do existencialismo, problema vosso.}

De todo o modo, a solução que Kierkegaard oferece para esse tipo de desespero é a fantasia - poesia, artes ou até Deus.

Mais uma vez, muito bem conseguido.

R. S. Neves

Maria Paulo Rebelo, disse...

"Sinto a nojenta repulsa da saudade, a estulta cobrança das memórias e o maravilhoso eco do fracasso."

Terá mesmo de ser assim? Porquê tantas vezes teimarmos que sim ou que não sabendo só do aparente, do momento e do que nos trespassa a cabeça naquele presente indeterminado? Numa ideia: é o instante! É o instante que faz de nós múltiplos eus! Eu sou uma leiga, mas se há coisa que já me ensinaram os meus 19 anos de vida foi da constatação de que nós somos mais do que uma multiinfluência de pensamentos isolados. Estou aqui a escrever uma série de barbaridades sem sentido só mesmo para tentar dizer que, sim poderei hoje ver o meu passado com pejo e repugnância, mas por certo ontem ou amanhã o pensamento será de compreensão, do acatamento da ideia de que aquilo naquele momento irreversível fomos realmente nós e de que, então, nada nos pareceu estúpido, antes nítido, com sentido e substância real, com uma clareza superlativa apesar de hoje o acharmos vago e ridículo. Enfim... relatividades instantâneas, quem não as tem!

Em tudo o mais, mantém-se a qualidade dos textos!